A filha, a mãe, o pai. Todos num corpo só. Depois daquele incêndio no bistrô da cidade, a menina, de ainda 12 anos, saiu correndo. Não queria ser vista sem os pais para não ter de ir num orfanato ou morar com os avós.
Gabriela foi para casa, queria viver por conta própria. Então resolveu que estudaria em casa, com seus livros, jornais e televisão. Portanto, ligou para o colégio imitando a voz de sua falecida mãe: “Peço desculpa, mas meu marido foi transferido de última hora e iremos nos mudar.”. Com seus problemas básicos resolvidos, deitou-se na cama dos pais ao lado de seu gato, Alfredo.
E o tempo foi passando... A moça agora tinha idade o suficiente para aparecer ao mundo. Poderia trabalhar, se casar e ter filhos. Não, não queria um marido. Por mais que conhecera vários homens e a menina fosse encantadora, gostava de passar uma imagem de mulher independente. Talvez por isso aparentasse um pouco masculina, mas com uma doce voz. Segundo conhecidos, era a cara do pai, o coração da mãe...
Sentia tanta falta da família que resolvera montar uma foto. Colocou o vestido do casamento da sua mãe, sem maquiagens e penteados. Apenas o vestido branco. Gabriela, noiva de ninguém. Ou de si mesma, como gostava de pensar. Abraçada com a mãe, beijada pelo pai. Esse era seu retrato de família que carregava na carteira.
Além da foto, levava consigo um espelho. Uns a chamavam de narcisista, mas gostava do espelho para olhar seu rosto e ver o pai.
Não era questão de não gostar das pessoas, mas a menina moça preferia viver sozinha a correr o risco de perder alguém novamente.
2 comentários:
Tenho medo... muito medo desse sofrer específico.
Tenho medo... muito medo desse sofrer específico.
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