terça-feira, 16 de novembro de 2010

Um pouco de Rubem Alves...

Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais.

Por que se tornar um educador? Essa pergunta parece, de saída, impertinente. Não há coisa mais nobre do que educar. Sou educador porque sou apaixonado pelo homem. Desejo criar condições para que cada indivíduo atualize todas as suas potencialidades.

A democracia só é possível se o povo for educado. Mas ser educado não significa ter diploma superior. Significa ter a capacidade de pensar.

Nossas universidades são avaliadas pelo número de artigos científicos que seus cientistas publicam em revistas internacionais, em línguas estrangeiras. Gostaria que houvesse critérios que avaliassem nossas universidades por sua capacidade de fazer o povo pensar.

Ler é fazer amor com as palavras. E essa relação com a literatura se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler, elas já são sensíveis à beleza.

A ciência se constrói não pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham. Todo conhecimento começa com um sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada.

Pensar é voar sobre o que não se sabe.

Há cursos de oratória. Não há cursos de escutatória. Todos querem aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir.

Os ministérios administrativos cuidam do harware do país. Lidam com a "musculatura" nacional. O Ministério da Educação deve lidar com o software do país. Ele cuida da "inteligência" nacional. Isso é bem mais que cuidar das escolas.

As escolas, frequentemente, formam antas: pessoas que não se atrevem a sair das trilhas costumeiras, por medo da onça. Nas escolas as crianças aprendem a ter medo de ousar. É mais seguro andar pelas trilhas já batidas pelos professores.

A preguiça deveria ser incluída entre as virtudes intelectuais. É nos momentos de preguiça que as revelações acontecem. Quem trabalha duro fica tão ocupado com as suas próprias idéias que não tem espaço vazio na cabeça para idéias vindas não se sabe de onde.

Quem não lê é cego, ou quase cego. Só vê com os seus olhos. Quem lê, ao contrário, tem muitos milhares de olhos: todos os olhos daqueles que escreveram.

As escolas, dos grupos às universidades, dedicam-se a somar conhecimentos. Não há nelas lugar para o cultivo da sabedoria. Sabedoria não cai em vestibular.

Parece que as escolas são máquinas de moer carnes: numa extremidade entram as crianças, com suas fantasias e seus brinquedos. Na outra saem rolos de carne moída, todos iguais, prontos para o consumo, "formados" em adultos produtivos.

"Formatura": "formar" é colocar na fôrma, fechar. Um ser humano "formado" é um ser humano fechado, emburrecido. Educar é abrir. Educar é "desformar". Uma festa de "desformatura"...

Um comentário:

Simone disse...

Caramba Lígia,quanta verdade..."encaixotem os livres."

Mas tenho por mim que estamos caminhando rumo ao novo.
Tem mt gente disposta a fazer a diferença...mts oficinas...projetos d desenvolvimentos a parte...músicas...a própria internet...que vai instigando as crianças fazendo com que ganhem autenticidade,vão se descobrindo e mostrando seu espaço.
Acho tb que as mts provas,as mts oportunidades d entrar em uma faculdade...faz com que os jovens pensem...pensem em ser únicos em ter/ser algo inovador.
Fala-se d tudo a todos em quase toda parte...sempre em busca do entrosamento.
As portas estão sendo abertas...ainda com grades as janelas...
Estou otimista quanto ao presente futuro!!