sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Estatuazinha de gesso, Manuel Bandeira

Foi hoje, na aula de inglês, que soube da existência do poema que, por sinal, é muito lindo. Portanto, o compartilho com vocês, leitores.


Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova
– O gesso muito branco, as linhas muito puras –
Mal sugeria imagem de vida
(embora a figura chorasse).

Há muitos anos tenho-a comigo.
O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina
amarelo-suja.

Os meus olhos de tanto a olharem,
Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico.

Um dia mão estúpida
Inadvertidamente a derrubou e partiu.
Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos,
Recompus a figurinha que chorava.
E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo
mordente de pátina...

Hoje esse gessozinho comercial
É tocante e vive, e me fez agora refletir
Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.




Sofrer é sinônimo de viver.

Um comentário:

Kléber Novartes disse...

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho,
um brasileirinho que soube, como poucos, poetizar a vida.

‘Estatuazinha de gesso’ somos eu e você, minha cara Lígia.
Hoje apenas choramos, e o tempo vem nos envelhecendo sim, deixando-nos gastos, polidos... e lentamente também nos mancha de pátina, e ficamos nesse amarelão vivido.

Mas, a mão descuidada ainda nos falta. É preciso quebrar-se!