(Escrito em 2009)
Foi-se. Nenhum sinal de Miguel. Depois de tantas brigas e desentendimentos com a mulher, achou melhor ir embora. Sem deixar satisfações, pegou algumas roupas e fugiu com a amante.
Mulher bela e encantadora, pensa com o coração. Uma mulher apaixonada. Gosta de perfumes e é de sua preferência que os homens sejam cheirosos - assim que a encantam -.
Passado um ano, Raquel resolve deixar suas mágoas de lado. Certa tarde, sem muito trabalho na empresa, Raquel vai ao shopping admirar algumas vitrines e, por fim, entra em uma perfumaria. No local, encontra-se um homem alto, moreno e corpulento apoiado no balcão. Sem mostrar interesse, Raquel se aproxima e apóia-se ao lado daquela escultura humana. Seus olhos verdes, o sorriso cativante e, ainda por cima, estava comprando perfumes! Com certeza, esse era o homem que ela havia esperado! Discretamente, tira sua aliança e a guarda na bolsa. Ao final das compras, Raquel ganhou um jantar a ser marcado.
Lia, sua filha de 17 anos, carinhosa, inteligente, esperta, não muito apaixonada, ao fim da aula na academia, pára na lanchonete para tomar um suco. Algo a chama atenção. Suas pernas travam e o olhar se fixa e um ponto: um homem alto, moreno e corpulento. Se aproxima. Os olhos verdes, o sorriso cativante... Foi pedir o suco e o homem já veio puxar assunto. "Alguma noite dessas sei que minha mãe vai sair...". Lia, então, passou-lhe o número de seu celular para que depois passasse o endereço.
Era a noite do encontro de Raquel. Lia estava impaciente no quarto esperando alguma ligação. A campainha tocou e a filha desceu. Surpresa, deu um passo para trás: um homem alto, moreno e corpulento. Olhos verdes e sorriso cativante - era ele -. Ambos estavam incomodados, mas isso não foi problema. Logo estavam intercalando beijos e amassos no sofá da sala.
Os dois ali e Raquel descendo as escadas. O silêncio foi profundo e longo de desentendimento, decepção. Ciúme.
- Mãe, este é o Jacó que havia lhe falado. E apareceu aqui de surpresa, não é fofo?!
Sua mãe não tirava os olhos daqueles olhos verdes.
- Não se lembra, Mãe? O homem alto, moreno e...
- E corpulento. Olhos verdes e sorriso cativante. - ainda fitando aqueles olhos verdes - É, eu me lembro. O homem que gosta de perfumes...
- Perfumes? Vocês já se conheciam?
- Sim, filha. Nos conhecemos em uma loja e não, ele não apareceu aqui de surpresa. Iríamos sair para jantar agora.
O homem corpulento e de sorriso cativante resolveu abrir a boca:
- Sinceramente, não sei como explicar. Conheci sua mãe e logo senti aquele frio na barriga, uma vontade incontrolável de continuar com ela. Com você, o sentimento foi diferente. Rolou desejo. Gostei muito de você mas, me entenda temos idades e pensamentos distantes, não daríamos certo.
O silêncio reapareceu, mas de forma diferente. Era agora confortável, relaxante. Jacó e Raquel, sentados, conversando no mais profundo silêncio, apenas na troca de olhares. Ao fundo somente se ouviam os pés descalços na madeira da escada e portas se abrindo e se fechando. Era uma questão de minutos para Lia se acalmar. Ligou para um amigo e logo se ouviam os saltos descendo a escada. Lia saiu com apenas um sorriso para Jacó.
Raquel subiu para pegar a bolsa. "Ah, aqueles olhos verdes...".
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